– Menina, há quanto tempo.
– Amiga, tô em falta com você. Vivo numa correria maluca. Essa vida de coach literária não é fácil.
– Coach literária? Achei que você trabalhasse com venda de cosméticos.
– Larguei. Queria algo que me completasse, sabe? Quero deixar minha marca na sociedade.
– Que bacana. Mas não deve ser fácil. Qualquer trabalho relacionado à leitura no Brasil é uma tarefa inglória.
– Que nada. Você não imagina como meu negócio anda bombando.
– Gente, tô surpresa. Nossa população compra tão poucos livros…
– Isso tá mudando, viu?
– Que coisa boa de se ouvir. Educação e cultura são base pra qualquer sociedade.
– Meu lema, amiga.
– Olha, tô muito orgulhosa de você.
– Ai, brigada. Você não quer participar?
– Claro que quero. Como funciona? Você sugere livros?
– Isso mesmo. Como é bom falar com gente letrada.
– Imagina. É que eu já participei de alguns grupos desse tipo. A gente lia um livro por semana, e conversava sobre ele no encontro seguinte.
– Eu prefiro fazer por tópicos. Um por mês.
– Gostei da ideia. Qual é o tema desse mês? Clássicos? Lançamentos? Algum autor específico?
– Não. Esse mês é camurça.
– Camurça? Nunca ouvi falar nesse romance. Quem escreveu?
– Amiga, camurça é uma cor. Escolhi porque traz harmonia, leveza e elegância. Tudo que a gente anda precisando.
– Não entendi. E daí se é uma cor?
– Daí que você tem que comprar livros da cor camurça pra poder participar.
– Você tá falando da cor da capa?
– Também, mas principalmente da lombada.
– Mas… qualquer um?
– Claro. O que importa é a tonalidade.
– E se os livros forem ruins?
– Quem disse que você vai ler?
– Se não for pra ler, por que eu iria comprar?
– Ué, pra empilhar e postar nas redes, claro.
– Você enlouqueceu? Não vou comprar livros só pra postar no Instagram.
– Nossa, que decepção. Pensei que você quisesse mudar o país.
– E você acha que uma bobagem dessas pode ajudar a mudar o país?
– Amiga, não sou só eu não…