Muita gente tem estranhado a minha baixa produção literária em um período tão próximo às eleições. A escassez de crônicas de cunho político parece ser mesmo atípica. Diariamente, o Face me lembra de um grande número de textos escritos nesta mesma época, durante as campanhas de 2014 e 2018. Tempos em que meu desânimo com os protagonistas da política brasileira ainda não havia dizimado minhas esperanças de que – um dia – poderia vir a testemunhar períodos de tolerância, competência, prosperidade e justiça social. Hoje, diante do inevitável e desastroso desfecho para o qual caminhamos – independentemente de qual dos dois criminosos venha a ser eleito –, é cada vez mais difícil encontrar palavras que expressem meu desalento. Afinal, esta é mais uma eleição em que repetimos os mesmos erros. Quantas vezes já escrevi sobre isso… Tem hora que cansa.
Também cansa a ofensiva que ambos os lados agora fazem pelo tal do (argh) “voto útil” no primeiro turno. Querem que eu vote em Lula para que Bolsonaro seja defenestrado o mais rapidamente possível. Querem que eu vote em Bolsonaro para que a chance de que Lula desapareça de uma vez por todas da vida pública brasileira permaneça viva. E eu aqui, lamentando a oportunidade que estamos perdendo de acabar com os dois bandidos de uma só vez.
“Quem não se posicionar agora não vai poder reclamar depois”, ameaçam os adoradores de políticos. Como se o direito de criticar fosse exclusivo àqueles que votam em A ou B. E como se eu – que vou de C – estivesse fadado a escrever somente sobre flores, mares e montanhas pelos próximos 4 anos.
Não, não vou votar no seu deus, caro militante petista. Não acho que sua possível eleição já no primeiro turno traga algum benefício ao país. Lula jamais conseguiu ser eleito dessa forma, mesmo quando sua popularidade era incontestável. Foi preciso uma figura lamentável como Bolsonaro para que, pela primeira vez, essa possibilidade se tornasse concreta.
Não, não vou votar no seu mito, caro bolsominion. E, no seu caso, acho que você deveria ficar satisfeito com minha escolha. Pense: quanto menor a quantidade de votos recebidos por Ciro Gomes e Simone Tebet, maiores serão as chances de que essa eleição termine no próximo dia 02 de outubro. E isso não é opinião da globolixo, é pura matemática. Claro, sei que você acha que as pesquisas são falsas e que o messias vai ganhar de lavada. Cada um tem o direito de acreditar na terra plana que quiser. No mundo real, entretanto, os votos de Ciro e boa parte dos votos de Simone têm muito mais chances de ir para Lula do que para Bolsonaro. Portanto, se eu fosse você, começava a fazer campanha para a chamada terceira via. É o que lhe resta.
Quanto a mim, aguardo apenas a eleição do homem mais honesto ou do mais imbrochável, para continuar cobrando dele um mínimo de coerência, de responsabilidade, de compromisso com o futuro do país. Pelo histórico de ambos, inspiração não vai faltar.