Hoje acordei com saudades de um abraço. O mais aconchegante dos abraços. Aquele capaz de fazer dois corações baterem no mesmo ritmo. Aquele que amainava angústias, que aquietava a alma. Aquele que – ciente de sua finitude – era sempre eterno.
Hoje acordei com saudades de uma gargalhada. A mais contagiante das gargalhadas. Aquela que buscava ensinar aos aprendizes de gargalhadas tudo o que uma verdadeira gargalhada deveria ter. Aquela que me fazia querer gargalhar, mesmo quando lágrimas insistiam em orvalhar meu sorriso. Aquela que eu pedia que continuasse gargalhando.
Hoje acordei com saudades de um olhar. O mais pleno dos olhares. Aquele olhar que – mesmo silente – dizia tudo que eu precisava ouvir. Aquele olhar humilde que só quem sabe muito é capaz de sustentar. Aquele olhar sereno de quem não espera retribuição alguma do olhar que o contempla. Aquele olhar que acalenta.
Hoje acordei com saudades de uma voz. A mais doce das vozes. Aquela que – embora grave e eloquente – jamais se impôs pelo volume. Aquela que sabia o momento de se calar, mas, chegada a hora de se manifestar, calava fundo em quem a ouvia. Aquela cuja brandura harmonizava com a sabedoria das palavras proferidas. Aquela que – como a mais linda das canções – não podia ser esquecida.
Hoje acordei com saudades de mãos entrelaçadas. Saudades de como os dedos conseguiam conciliar força e afago. Saudades da textura que me lembravam o quanto o tempo é implacável, e minhas súplicas, impotentes. Saudades dos pactos feitos, das promessas não cumpridas, da resignação ante ao desenlace.
Hoje acordei com saudades de poder admirar, abraçar, ouvir e gargalhar de mãos dadas com o aniversariante do dia. Uma pessoa tão iluminada, que até hoje prefiro acreditar que o dia dos pais seja apenas uma homenagem a um dia que é só dele.
Feliz aniversário, pai. Você – como sempre – tinha razão: o amor permanece.