Acabo de sair da antiga Vila Rica, capital das Minas Gerais. Acabo de testemunhar os feitos e as agruras de Antônio Francisco Lisboa, o grande mestre do barroco brasileiro. Acabo de me emocionar com uma produção impecável, solistas fabulosos, e música arrebatadora. Acabo de vivenciar parte da minha própria história.
A ópera Aleijadinho é uma obra-prima. E é uma obra-prima não apenas cênica e musical. Aleijadinho é uma obra-prima por mostrar os conceitos de arte e liberdade a uma sociedade pouco acostumada a ambos. Ali – no palco – está a arte em sua essência. A arte como expressão de inquietação e inconformismo, como força propulsora de mudanças, como artimanha para se driblar a censura e a tirania. Em tempos em que parte significativa da população brasileira acredita que a arte deve manter-se alheia aos acontecimentos sócio-políticos do país (a não ser, é claro, quando o artista partilha de sua ideologia), assistir a Aleijadinho chega a ser um bálsamo.
Da mesma forma, a liberdade exaltada no espetáculo é plena. Não se trata da busca seletiva que vemos hoje em dia, em que o esforço para que muitos se calem é chamado de soberania por aqueles que gritam, em que muitos se acham no direito de autorizar alguém a trocar a democracia pelo autoritarismo.
Assistam a Aleijadinho. E que a arte não permita que nossa liberdade nos falte, ainda que tardia.