Dizem que papel tudo aceita. Projetos que não funcionam, frases mal formuladas, pinceladas carentes de significado. Às folhas, não são indagados juízos ou predileções. Resta-lhes a conformidade. Indefesas, parecem incapazes de renunciar a inverdades, impossibilidades ou meros exageros estéticos. Depois de impressos, traços, rabiscos e palavras assumem o protagonismo. Ao papel, resta apenas torcer para que seus ocupantes lhe tragam alguma relevância ou, pelo menos, motivações que posterguem o momento do descarte. A posteridade é para poucos.
Nem as mais afortunadas obras, entretanto, conseguem captar as agruras do processo. Ali se encontra o fruto de uma jornada, colhido depois de sabe-se lá quantas noites mal dormidas. Para a maioria dos observadores, não há vestígios das incertezas que, muitas vezes, deixaram inquieto o autor do feito. Não há sinais da solidão, tão insistente na reverberação dos ecos. As lágrimas porventura derramadas estão secas. As sombras do medo e da saudade não resultaram em manchas. O ritmo das palpitações – agora serenado – não deixou marcas no papel.
Mas eu as vejo, meu filho.
Olho para cada palavra impressa nesta folha e penso nas muitas que aprendemos a trocar à distância. Seu nome em destaque me remete àquele ainda escrito na porta de um quarto que não mais o reconhece. Afinal, o garoto que partiu há mais de 2 anos fez-se homem longe dele. O idioma das frases me serve de alerta para os muitos quilômetros que nos separam. Papel e moldura unidos me lembram das vésperas das despedidas, em que dormimos de mãos dadas. A descrição do grau alcançado traz o som de sua voz a me dizer que você sempre soube onde queria chegar. Era sua vocação falando alto. Era sua vocação conclamando para que voasse mais alto ainda. E você foi bravo o bastante para segui-la.
Dizem que papel tudo aceita. Alguns, entretanto, são especiais. Alguns inspiram. Alguns nos dão um orgulho danado. Alguns nos fazem acreditar que há muitos novos caminhos a serem percorridos. Alguns nos mostram que, em algum momento, devemos ter feito alguma coisa boa para merecer tamanha alegria.
Parabéns, Arthur. Sua coragem, sua determinação e sua competência estão impregnados neste diploma. Nosso amor, meu querido, não cabe em papel algum.