Belo Horizonte, 8 de agosto de 2021
Fernando,
Há quanto tempo não lhe escrevo. Há quanto tempo não lhe encaminho meus textos, ansioso por saber se as reações viriam em forma de palavras, sorrisos ou lágrimas. Há quanto tempo não compartilho com você minhas aflições, minhas alegrias, meus medos.
Tenho escrito muito, Fernando. Bem mais do que a última vez em que nos vimos. Como não poderia deixar de ser, muitos dos textos falam de você e do seu “Caminho para o mar…”. Quero muito que você os leia, um dia. Tenha certeza de que o legado da sua obra é rico, e, tantos anos depois, segue inspirando muita gente. Meu filho Arthur, por exemplo – lembra-se dele? –, tem um exemplar em sua mesa de cabeceira lá em Orlando. Sim, ele mora nos Estados Unidos agora, você não sabia? Partiu há dois anos em busca do sonho de se tornar cineasta. Quando se sente sozinho, ele abre seu livro aleatoriamente e lê o que você escreveu ali. Mesmo sabendo cada frase de cor, é como se estivesse lhe perguntando o que deveria ouvir naquele momento. E você sempre responde.
Quero ser capaz de escrever como você, Fernando. Quero que minhas páginas perdurem, e possam tocar corações indefinidamente, como se fosse eu a ditá-las a cada leitura. Quero saber traduzir o que existe de essencial no tilintar das taças, no entrelaçamento das mãos, no rumor incômodo do silêncio. Quero encontrar palavras que possam descrever o seu olhar. Leio e releio sua obra em busca de aprendizado. Hei de descobrir – um dia – a dar mais valor ao espírito da floresta, ao calor do sol, ao cheiro da terra e, principalmente, à paz que se respira na plenitude. Hei de aprender a contornar obstáculos, ao invés de confrontá-los. Hei de me tornar rio, Fernando.
Você tem ideia do quanto a sua obra marcou a minha vida? Tem noção de como suas palavras ainda me guiam? Seu livro permanece. Creio que você ficaria feliz ao saber disso. Posso lhe pedir que continue escrevendo? O mundo necessita tanto de sabedoria, de bom senso, de serenidade. Esquece, bobagem minha, essa é uma tarefa que não mais lhe cabe. É que os dias passam, e percebo que sei cada vez menos. É assim mesmo, Fernando? Ou ando fazendo tudo errado? É assim mesmo, pai?
Foi bom escrever para você. Tenho muito ainda a lhe dizer, mas vou deixar para as próximas cartas. Sim, prepare-se para receber muitas delas. Quem sabe uma resposta? Só uma, dizendo que o mar existe e é realmente pleno. Eu sei, perdoe-me, estou forçando a barra novamente. Fui inconveniente o bastante quando, naquela noite, lhe pedi para ficar. Não vou repetir o erro.
Até qualquer dia, Fernando. Mandarei notícias em breve.
Um grande e carinhoso abraço do seu xará.
P.S. Acho que você já sabe, mas jamais deixarei de ser seu fã!