Vinte…

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Lembro-me de você com 20 horas. Menos de um dia de vida e seus olhinhos atentos já se esforçavam para reconhecer seu novo ambiente. As vozes que você se acostumara a ouvir ao longo da gestação ganharam feições, sorrisos e olhares apaixonados. Tudo era novidade. Você teve que aprender a respirar, a se alimentar, a não se assustar com a claridade e os ruídos à sua volta. Nós tivemos que aprender a conhecê-lo.

Lembro-me de você com 20 dias. O móbile que girava sobre o seu berço parecia inalcançável. Suas mãozinhas se esticavam, em vão, na tentativa de tocar as estrelas coloridas. Debatiam-se, impacientes, mas você sorria, certo de que acabaria conquistando seus objetivos. Os sorrisos faziam parte de sua rotina. Sempre fizeram. Eu ouvia seus balbucios – cada vez mais firmes – da porta de entrada, assim que anunciava em voz alta a minha chegada: “gostosura de menino lindo e fofo do papai”. Você se empertigava todo, como se fosse preciso me pedir colo. Não era. Quantas vezes dormimos juntos, você sobre o meu peito, o som do meu coração a lhe ninar.

Lembro-me de você com 20 meses. As grades do berço já não eram obstáculo e você se acostumou a vir correndo me abraçar todas as vezes que ouvia o barulho da chave na porta. Passávamos horas assistindo aos seus filmes favoritos, ouvindo as músicas da Xuxa, brincando com os carrinhos que você adorava destruir. Dormir era um custo, mas nenhuma noite em claro nos trouxe arrependimentos.

Durante mais de 18 anos, você sempre esteve por perto, no quarto ao lado, a poucos passos de distância. Seus desafios tornaram-se cada vez maiores, mas seus sonhos cresceram muito mais. Lembro-me de você hipnotizado diante de filmes densos e complexos, muitos até impróprios para a sua idade. Coisas de pais meio relapsos. Lembro-me de você embevecido, ouvindo de seu avô os mais sublimes conselhos, todos em forma de bate-papo. Lembro-me dele me dizendo que não me preocupasse com você, pois jamais conhecera alguém tão jovem com o seu caráter e a sua noção de ética e de justiça. Seu avô – como sempre – estava certo.

Hoje você faz 20 anos, meu filho. Como foi que o tempo passou tão rápido? Há pouco tempo, sua mão se esforçava para envolver meu dedo indicador e isso lhe transmitia segurança. Hoje, quando nos damos as mãos, a mais carente é a minha. Assim como no ano passado, você está a milhares de quilômetros de distância. Mesmo assim, nunca estivemos tão próximos. Nunca falamos tanto em tão poucas vezes. A saudade nos ensina – na marra – a reconhecer o essencial. Nossos olhares nunca disseram tanto e os abraços e beijos que trocamos a cada reencontro são ainda mais especiais e eternos. A distância nos mostra que as coisas corriqueiras são sempre as mais importantes.

Vinte anos se passaram, meu amor, e até hoje eu não sei o que eu fiz na vida para merecer um filho como você. Seu sorriso, sua felicidade e seu amor são os maiores presentes que eu poderia receber. Sua força, sua coragem, sua elegância e sua lisura me inspiram. Você me inspira, Arthur, todos os dias.

Que a vida continue lhe cobrindo de bênçãos, meu filho. Que o seu imenso coração continue lhe abrindo portas. Que as nossas mãos continuem se buscando. E que os nossos silêncios continuem nos dizendo cada vez mais. Obrigado por você existir.

Te amo, te amo, te amo!

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