Colapso…

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Tenho amigos que moram em Portugal. Diante do aumento dos casos de Covid, o governo decretou um lockdown severo. A circulação de pessoas é limitada e compras em supermercados e padarias devem ser agendadas. Os desobedientes estão sujeitos a multas e detenções.

Tenho amigos que moram no Canadá. Eles têm liberdade de sair de casa apenas para compras essenciais e exercícios ao ar livre. Encontros com famílias vizinhas podem lhes render multas de até 10 mil dólares.

Tenho amigos que moram na Austrália. Mesmo em um país com um terço do número de mortes registradas no município de Belo Horizonte, quaisquer pequenos novos surtos da doença provocam fechamento total das atividades. As pessoas não podem se afastar mais do que uma determinada distância de suas casas, sob pena de multa e prisão.

Situações semelhantes se repetem na Alemanha, na Nova Zelândia, na Espanha. A lista é longa. A verdade é que os líderes de praticamente todos os países do mundo recorrem ao lockdown ainda hoje, mesmo depois do início da vacinação. É uma questão sanitária.

No Brasil, entretanto, isso não acontece. Jamais tivemos um lockdown de verdade. Nosso isolamento contou apenas com o fechamento de setores específicos. Somos hoje o epicentro da pandemia no mundo. O sistema de saúde do país está em colapso. Mesmo assim, os nossos prêmios Nobel do Whatsapp insistem em dizer que vivemos uma ditadura, a pandemia é uma farsa, o isolamento não funciona, máscaras só fazem mal, vacinas feitas às pressas são placebo, e prefeitos e governadores querem destruir a economia do país para prejudicar o governo federal. Como se um presidente que endossa todos esses absurdos precisasse de ajuda para se desmoralizar perante a opinião pública.

Aguardemos agora as novas carreatas dos brasileiros patriotas contrários ao isolamento social e favoráveis ao mito. O show de horrores que presenciamos nos hospitais a cada dia parecem não ser suficientes para minar de vez as nossas esperanças.

Disclaimers:
1) Não, não estou comparando o Brasil com Portugal, Canadá, Austrália ou nenhum outro país. São realidades diferentes. Mas a seriedade com que encaramos a pandemia deveria ser a mesma.
2) Sei o quanto o fechamento tem destruído empresas e empregos. Também dependo do funcionamento da cidade para pagar as contas. Mas estamos vivendo uma guerra. Quanto mais nos cuidarmos, mais rápido tudo isso vai passar. O importante agora é sobreviver.
3) Recomendações de tratamentos precoces só serão aceitas se vierem também nas versões em inglês, francês e espanhol. O sucesso de uma descoberta desta magnitude não pode ficar restrito aos rincões do Brasil. Tem que ser partilhado com o mundo.
4) Menções à cloroquina, por sua vez, deverão vir acompanhadas de receitas de chá de quebra-pedra e simpatias da Tia Marianinha, infalíveis também para calo e mau-olhado.

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