Brasil, num dia Q qualquer, em um futuro P próximo…
– Bom dia. Eu vim me vacinar.
– Perfeitamente. O senhor fez o agendamento no nosso site?
– Sim. Aqui está o comprovante.
– Senhor, aqui diz que o agendamento é para o dia D.
– Sim. Hoje.
– Não. Hoje é dia H.
– Mas o presidente anunciou ontem que o dia D tinha chegado. E no site só existia essa opção. H era a hora. Tem certeza de que está lendo certo?
– Certíssimo. No momento estamos atendendo apenas pessoas agendadas para hoje, dia H e para agora, hora A.
– Dia D foi ontem?
– Não. Ontem foi dia O.
– E quando vai ser o dia D?
– Senhor, somos cientistas aqui. Lidamos com fatos, não com previsões.
– Meu filho, eu tenho 85 anos, peguei duas conduções pra vir até aqui. Veja o que você pode fazer por mim.
– Meu senhor, não posso colocá-lo à frente de todos que agendaram corretamente.
– Mas não tem ninguém aqui.
– Mesmo assim. Além do mais, não ia adiantar muito.
– Por que não?
– Porque não temos seringas.
– De que adianta anunciar a vacina se as seringas não chegaram?
– É só uma questão de transparência e de respeito à população. E de marketing também, é claro.
– E quando elas estarão disponíveis?
– No mês M, sem falta.
– Que absurdo. Nem sei se estarei vivo até lá. Quero fazer uma reclamação.
– Para reclamações o senhor deve se dirigir ao guichê G.
– E onde fica?
– No pavimento P, ao final do corredor C, sala S.
– Aqui mesmo?
– Não. No edifício E.
– Pois eu vou!
– Mas o senhor tem que preencher o formulário antes.
– Que formulário?
– O formulário F, é claro.
– E onde eu consigo esse formulário?
– No balcão B.
– Chega. Vocês conseguiram. Eu desisto. Já vi que vou ter que ficar isolado pelo resto da vida.
– Não seja pessimista. Em breve o senhor e toda a população brasileira estarão imunizados.
– Em breve?
– Sim, antes do final do ano A. Posso ajudá-lo em mais alguma coisa?
– Só uma.
– Pois não.
– Vai pra PQP!