Meu ano começou com abraços. Alguns poucos e especiais, daqueles bem apertados, me cobriram de amor e de amizade. Outros – a maioria – foram dados e recebidos de longe. Li e ouvi votos tão sinceros quanto os que falei e escrevi. O carinho e o afeto têm mesmo a capacidade de alcançar telas em todas as partes do mundo. Cada mensagem foi quase um abraço. O problema é essa minha dificuldade em me contentar com os “quases”.
Alguém escreveu um dia que o quase também é mais um detalhe. Pode até ser verdade, mas é um detalhe importante demais para mim. Não me satisfaço com quase abraços, com quase amigos, com quase brindes. Quero sentir a energia e o calor de quem me envolve, quero ver de perto o brilho no olhar que só os que se amam compartilham, quero ouvir o tilintar das taças se encontrando. Quero estar perto.
De todas as restrições que 2020 me impôs, o abraço é o que mais falta me faz. Um simples abraço é capaz de dizer muito mais do que qualquer texto que eu vier a escrever ou do que qualquer frase que eu vier a pronunciar. Posso não ser honesto na escolha das palavras, mas meu abraço é sempre verdadeiro. Breve ou demorado, silencioso ou dublado pela emoção, acompanhado de beijos ou de lágrimas, não importa, ali eu estou por inteiro.
Meu abraço pode manter as mãos firmes e estáticas ou deslizá-las até a nuca alheia para, sem pressa, findar num sorriso. Meu abraço pode usar meus ombros como abrigo e meu rosto como amparo. Meu abraço pode ser de afago ou de perdão, de orgulho ou de tolerância, de paixão ou de bem-querer. Meu abraço pode até se esquecer de suas próprias razões.
Muitas vezes a correria da vida não me permite ficar para um papo, mas sempre haverá tempo para um abraço. Os abraços da partida são eternos mas, cá entre nós, prefiro os da chegada. Sinto falta dos abraços de consolo que me sustentam, de congratulações que me animam, de admiração que me motivam. Sinto falta do tempo em que o abraço era só um ato de carinho.
Meu abraço está contido há mais de oito meses. Quase uma gestação. Como já disse que não gosto de “quases”, que novos abraços nasçam e se multipliquem no ano que começa hoje. Que os velhos abraços se renovem e jamais se percam na distância e na frieza de um novo normal. Um dia, tudo isso vai passar e os toques voltarão a nos contagiar apenas com vida. Que o ano que se inicia seja mais afeito a abraços que seu antecessor, tão rude.
Bom dia, 2021. Seja bem-vindo. Agora que nos conhecemos, por favor, me abrace!