– Filho, venha aqui. Precisamos ter uma conversa séria.
– O que foi, pai?
– Eu e sua mãe não temos sido totalmente honestos com você.
– Pai, tô ficando assustado.
– A gente não podia te contar a verdade. Você ainda era muito novo pra entender.
– Pai, pelo amor de Deus, fala logo.
– Antes eu quero que você entenda que nós dois te amamos muito. Nada vai mudar isso.
– Eu juro que entendo, mas eu tô quase em pânico aqui.
– Paula, pega um copo de água com açúcar pra ele.
– Gente, eu não quero beber nada. Só quero saber o que está acontecendo.
– Tá bom, querido. Olha só… Sabe?…
– Pai, desembucha de uma vez.
– Você é fruto de uma reprodução heterossexual.
– Ah, meu Deus. Não acredito.
– Calma, filho.
– Como você quer que eu fique calmo?
– Eu sei que é um choque. Senta aqui, respira. Paula, pega um saco de papel. É mais uma daquelas crises de ansiedade.
– Não quero saco de papel nenhum. Quero saber toda a verdade agora.
– A gente vai te contar, filho.
– Reprodução heterossexual entre quem?
– Bem… é… entre mim e sua mãe.
– Ah, vocês querem acabar com a minha vida.
– Filho, não diga isso. Nós éramos muito jovens.
– Juventude nenhuma justifica isso.
– Eu sei, querido. Não foi fácil pra gente esconder essa mácula de todo mundo.
– Quantas vezes me disseram que eu era a sua cara, lembra? Você dizia que isso era impossível.
– Perdão, filho. Nós não queríamos mentir pra você.
– Mas mentiram! Tantas opções, pai. Tantas opções.
– Sabemos disso, filho.
– Eu podia ter nascido de barriga de aluguel, de fertilização de todos os tipos, de bancos de óvulos e de sêmen. Podia até ter sido adotado.
– A gente queria que tivesse sido algo assim, mas não foi.
– Como é que eu vou olhar pros meus amigos agora? Eu sou uma aberração.
– Não, claro que não. Você é lindo.
– Acho que não sei mais quem eu sou.
– Calma, tudo vai passar.
– Só falta você me dizer agora que não é gay e que o casamento de vocês não é de fachada.
– Paula, o saco de papel e a água com açúcar. Rápido!
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