Estou pronto pra viagem. Será? Viajar pra fora é fácil, que tal viajar pra dentro? Pro fundo. Profundo. Lá onde a luz é escassa. Tornar-me a caça. Qual é a graça? Afagar o que eu não conheço. Esqueço. Mereço desbravar caminhos. Redemoinhos. Reflexos dos meus pergaminhos. Reflito. O espelho que me entrevista é míope. Distorce. Quero me olhar nos olhos. Não foge. Mostra mais que uma fração. São muitas camadas. Sirvo em fatias. O recheio é bom? De quê? Não sei. Receios caramelizados, talvez. Passo a vez. Não estou com fome. Mas tenho sede. Estremeço, mas não de frio. Vou me saciar no rio. Lá vem outro arrepio. E essa mania chata de querer rimar. Ninguém está olhando. Eu vejo. Que olhem, que julguem. Quem deixou? Não pode. Fode. Foda-se. Explode minha lucidez. A luz me serve. O sol chegou e o calor me queima. Com essa tez. Sensatez. Não tenho protetor. E protege? Projeta. Mergulha. Tem uma agulha na areia. Ali não piso. Não dá pé. Bato os pés. Garanto que sei nadar. Boiar, não consigo. Afundo, só de pensar. Estou no fundo da lagoa. Alguém diria “de boa”. Tá vendo? Quem mandou? Eu? Eu nada. Eu nado. Já estive na floresta. Que festa. Seresta de sons, de cheiros, de medos. Acordei em um fiorde. Sob a montanha. Alguém gritou lá de cima. A margem se aproxima. Tem algo no meio do nada. Algoritmo. Agora não tem mais sombra. Ontem era uma árvore. Vi um vulto debaixo dela. Reconheci as mãos, os braços. Saudades dos meus abraços. O colo do meu pai. O cheiro do meu filho que está longe. Distâncias que eu não gosto. Aposto que o vento leva. A vela inflada, ondulada, tremulando feito uma bandeira. Temo. Tremo. Tremenda ventania. Quem foi que agitou a água? A onda quer me levar. Pra onde, onda? Espera. Acalma. Espera a calma chegar. Ruge. Faz sinfonia pro mar. E essa mania que não vai embora. Sangra. Espuma. Quero ajudar também. Quando eu soltar a minha voz vou cantar alto, entende? Repousa. Pousa. Arremete. Deixa desse trem de pouso. Decola. Garante que nada do que eu disse é certo. Tem certo? Decerto que não. Coberto de grãos. Voltei às mãos. De quem? Do Fernando, aquele que viaja.