Confesso que o convite me pegou de surpresa e a ficha demorou a cair. Quando caiu, inseguranças que imaginei superadas vieram à tona: teria o que vestir? Saberia me comportar? Que assuntos poderia abordar? Conseguiria disfarçar meu nervosismo?
Chega o dia. O convite era mesmo pra valer. Mal adentro e me deparo com o André e o Helinho diante de uma pintura abstrata na parede. Um filosofa sobre a forma intuitiva oculta no borrão multicor e o outro só quer saber onde está o garçom. Nelson, logo atrás, dá uma sonora gargalhada.
Mais adiante, Cássio e Sonia assistem emocionados a uma ária de Don Giovanni. Fico com a impressão de que a harmonia da ópera foi ofuscada pela suavidade da dupla.
Ao lado deles, Patricia, Fernando e Mentor discutem a viabilidade do equilíbrio psíquico da humanidade. Esforço-me na tentativa de acompanhar a rapidez das argumentações. Desisto. É mais fácil aceitar o primeiro canapé.
No centro da sala, em um patamar elevado de madeira de lei, Eduardo e Carlos sentam-se lado a lado em uma grande escrivaninha. Debruçados sobre uma infinidade de papeis, parecem felizes com os sonhos que se dispõem a realizar.
Na mesa lateral, Daniella e Calu dividem um cappuccino enquanto selecionam fotografias de tirar o fôlego. Penso em me juntar a elas. O papo noite adentro estaria garantido. Decido explorar primeiro todos os cantos daquele recinto, ainda mais fascinante do que imaginara.
De um ponto da sala, vejo simultaneamente cada um daqueles rostos. Um arrepio percorre meu corpo quando meu olhar de admiração percebe o instante de reciprocidade na troca de olhares. Sou cativado pela disponibilidade, pelo acolhimento e pela simplicidade de todos. As obras ali criadas – que já me guiavam de alguma forma – ganham agora novas camadas, novas cores, novas texturas.
Agradeço.
Está na minha hora. Tem muita gente na fila para entrar. Um dia, quem sabe, eu volto…