Enquanto isso, numa velha caixa de “War” guardada no alto do armário…
– Presidente Verde-oliva, estamos prestes a enfrentar uma emergência catastrófica.
– Qual é o problema, ministro Verde-escuro?
– Senhor, a camada que envolve o nosso mundo está se deteriorando rapidamente.
– Não diga bobagens, ministro. Estou olhando aqui pra cima e continuamos bem protegidos como sempre.
– Senhor, o problema vem de fora. As nossas camadas de papel-ozônio estão sendo destruídas.
– Quem lhe disse isso?
– O ministro do Exterior, o Branco.
– Verde-claro, você quer dizer. Não se esqueça de que todos no meu governo são verdes. Você mesmo achava que era o Preto.
– Eu sou o Preto, presidente.
– Desde que entrou aqui é o Verde-escuro. Se não fosse verde não entrava. Fui eleito democraticamente pra defender essa plataforma. Respeite a decisão do nosso povo, talquei?
– Como queira, senhor. Mas o caso é urgente. Estamos sob ataque de uma praga que corrói a nossa tampa de proteção.
– Eu não estou vendo nenhum buraco na tampa.
– A praga está corroendo as camadas externas primeiro. Só depois chegará aqui. Então será tarde demais.
– Que praga é essa?
– Ainda não sabemos ao certo. Mas aqui no ministério estamos chamando de Traça-19. Precisamos decretar estado de calamidade, senhor.
– Eu não vou alarmar o nosso povo à toa, ministro Verde-escuro. Isso não vai passar de um arranhãozinho ou machucadinho. A nossa tampa é velha mas vai aguentar.
– Presidente, o caso é muito sério. E está se espalhando com rapidez.
– Ministro, já enfrentamos problemas do tipo antes. Todo mundo sabe que traças são facilmente combatidas com hidroxinaftalina.
– Mas, senhor, essas traças já sofreram mutações. São bem mais resistentes. Ainda não há comprovação de que a hidroxinaftalina funcione. Precisamos alertar a população.
– Olha só, os vermelhos que governaram este tabuleiro por tanto tempo nunca se preocuparam em proteger as nossas camadas de papel-ozônio. E ninguém reclamou de nada. Por que a culpa é sempre minha?
– Presidente, um erro não justifica o outro. Nós não podemos pecar pela omissão.
– Você está me chamando de omisso, ministro Verde-escuro? Me respeite. Minha caneta pode agir a qualquer momento, talquei? E o povo está comigo.
– Senhor, existem pesquisas recentes indicando que até os amarelos o abandonaram depois que o senhor brigou com o ministro Azul. Só os verdes apoiam o senhor incondicionalmente. Mas estes sempre foram meio daltônicos mesmo.
– Nem me fale do ministro Verde-mar-do-caribe. Tô com ele por aqui. Aquele de verde não tinha nada. Sempre foi vermelho.
– Vermelho, presidente? Ele foi o grande responsável pela derrocada dos vermelhos.
– Tudo enganação, ministro. Traidor de uma figa. Chega de falar dele. Chega também de falar de uma diversidade que não existe. Pra mim, ou o cara é verde ou é vermelho. Essa é que é a verdade.
– Mas, senhor…
– Não quero ouvir mais nenhuma palavra. Pode ir. Aproveite e peça pra chamar o Verde 01, Verde 02 e o Verde 03. Nessas horas eu preciso consultar meu núcleo mais técnico e preparado…