E o primeiro mês de 2020 chegou ao fim. Um mês repleto de ameaças de conflitos internacionais, verdadeiros – e reais – conflitos familiares, recordes de chuvas e de mortes quebrados, contaminações letais descobertas – algumas no outro lado do mundo e outras no bar da esquina – e perdas de ídolos de forma abrupta.
Como toda circunstância desafiadora, o mês de janeiro deixou também muitos ensinamentos. Descobrimos que rios não deveriam ser confinados, que um simples vírus tem o poder de abalar toda a economia mundial, que processos produtivos sempre podem ser aperfeiçoados, que a tecnologia jamais será mais forte do que a Natureza e que tradições quebradas dão sempre mais notícia.
Mas janeiro deixou também outros tipos de ensinamentos. Não bastassem os trágicos eventos ocorridos no mês, o Brasil recebeu aulas de hipocrisia, de populismo, de atraso, de preconceito, de empáfia, de grosseria e de incompetência ministradas pelos mais diversos professores. Verdadeiros especialistas, nossos mestres estiveram particularmente inspirados no início do ano.
A aula de populismo avançado foi dada pelo prefeito de Belo Horizonte. Depois de três anos deixando de investir quase 70% dos recursos destinados à prevenção das recorrentes inundações, Alexandre Kalil afirmou que a chuva que provocou tantos prejuízos aos moradores da cidade foi uma resposta aos empresários gananciosos da construção civil. “Chegou na casa deles, no bairro chique e luxuoso”, afirmou o prefeito. Sendo ele mesmo um empresário da construção civil e também morador de um dos locais destruídos pela força das águas, tenho que admitir que o prefeito talvez tenha razão.
Damares Alves foi a responsável pela aula de retorno ao século passado ao insistir na campanha pela abstinência sexual dos adolescentes no intuito de se evitar a gravidez precoce. Se a ideia surtir efeito, o próximo passo provavelmente será sugerir às pessoas que não andem de carro para que os acidentes de trânsito diminuam, e que parem de ouvir rock para que a droga, o sexo, a indústria do aborto e o satanismo deixem de existir.
Uma manifestação em especial abriu espaço para duas aulas. O militante de esquerda e ex-auto-proclamado-presidente-do-país (também ator nas horas vagas) José de Abreu, proferiu ofensas machistas, misóginas e preconceituosas contra uma colega de profissão em uma das mais torpes aulas de grosseria dos últimos tempos. Por sua vez, quase nenhuma voz da esquerda se levantou para defender a mulher ou condenar o macho escroto, ministrando assim uma das mais eloquentes aulas de hipocrisia do início do ano.
O episódio do discurso de inspiração nazista feito pelo ex-Secretário de Cultura também deixou lições de hipocrisia. De um lado por afirmar que o “coitado” foi vítima de uma armação (como se fosse possível convencer alguém inocente a proferir um discurso no modo Hannibal Lecter). E de outro por manifestar tamanha (e justa) indignação num dia, enquanto homenageia um monstro genocida no outro.
Weintraub continuou dando aulas de incompetência ao minimizar os erros na correção de milhares de provas do Enem e ao chamá-los de “inconsistências”, “probleminhas já resolvidos” e “bom era na época do PT, né?”. As várias ações judiciais que pedem a revisão das provas ainda hão de fazê-lo encontrar novas denominações.
E ontem, no último dia do mês, Tati Bernardi publicou um texto que é uma verdadeira aula de empáfia afirmando que… ah, quer saber? Tati quem, mesmo?
Seja bem-vindo, fevereiro. As aulas já começaram…