Os dois capítulos finais da saga “Os Vingadores” quebraram recordes de bilheteria e levaram os fãs do Homem de Ferro e companhia às lágrimas por diversas vezes, principalmente no momento em que o vilão Thanos alcança seu maior objetivo: exterminar aleatoriamente metade da população da Terra.
As ações de Thanos, entretanto, não são motivadas pela fome de poder ou pela enfadonha busca do controle mundial. Thanos quer que metade da população deixe de existir para que a Terra se torne um planeta viável. De fato, após concretizar seu acalentado sonho, Thanos destrói as pedras que lhe proporcionaram poder absoluto – prova de que suas intenções sempre foram as mais nobres possíveis – e se refugia nas montanhas, de onde pode vislumbrar um novo mundo sem miséria, sem fome, com oportunidades iguais para todos, sem problemas de saúde, transporte e moradia. Um mundo de oceanos mais limpos, florestas nativas preservadas, nascentes e cursos d’água sem quaisquer riscos de contaminação.
Thanos é, sem dúvida, o mais ecológico dos vilões da história do cinema. Com um simples estalar de dedos conseguiu transformar áreas desmatadas em novas florestas, reduzir pela metade as emissões de gás carbono na atmosfera, recompor a camada de ozônio e findar os riscos do aquecimento global. Entretanto, no final da saga os super-heróis conseguem reverter as ações de Thanos e o planeta Terra volta a ser o mesmo lugar desastroso de sempre. Nem mesmo os fictícios filmes da Marvel foram capazes de fazer com que a fome, a pobreza, a falta de saneamento básico, as endemias, as guerras e todas as catástrofes do mundo moderno desaparecessem por mágica.
O fato é que a única forma de se alcançar algum progresso nessa área é através do trabalho, do empreendedorismo, da inovação, do cuidado com os mais necessitados, dos investimentos maciços em saúde e educação. E nada disso poderá ser conquistado se não houver geração e distribuição de riquezas. No mundo real, não existem fórmulas mágicas nem almoços grátis. O crescimento econômico global também é fundamental para o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias capazes de viabilizar fontes de energia renováveis, redução efetiva das emissões de gases poluentes e preservação das florestas e matas nativas. Em resumo: sem grana, nada feito.
Por tudo isso, me parece muito pouco inteligente – para dizer o mínimo – a aplaudida aversão ao dinheiro gerado por um modelo econômico que, mesmo com todas as suas limitações, tem feito com que mais e mais pessoas deixem de viver abaixo da linha da pobreza no mundo a cada ano. Claro, pelo menos até que o Thanos apareça para, de uma forma ou de outra, resolver nossos problemas definitivamente.
Por falar nisso, após alguns dos inflamados discursos proferidos nos dois últimos dias na ONU, sou capaz até de imaginar uma nova cena final para o último filme da saga: diante de um tribunal composto exclusivamente por jovens em idade escolar, os Vingadores – típicos representantes do capitalismo imperialista – são julgados e condenados por terem acabado com o sonho de um mundo melhor, mais justo, mais limpo e mais sustentável. A juíza, em sua condenação final, vira-se para cada um deles e afirma, quase sussurrando: “Como vocês se atrevem? Nós jamais iremos perdoá-los.” A câmera fecha em close no rosto da juíza enquanto aplausos efusivos são ouvidos ao fundo. Épico!
Na cena pós créditos, novos personagens são apresentados ao público, com destaque para o Orange Man e seu topete cortante, o super detetive 000 James Boris, o Messieur Macaron e o Capitão Fuinha com sua irritante mania de sabotar seus próprios planos. É a Marvel renovando seu arsenal de heróis depois da derrocada dos Vingadores. Que fase!