Quem tem 50 anos ou mais certamente se lembra de Uri Geller, um ilusionista israelense que, na década de 70, ficou famoso no Brasil ao se apresentar em inúmeros programas de televisão. Recordes de audiência foram quebrados enquanto famílias inteiras se postavam feito zumbis diante da TV, portando garfos e colheres, na esperança de que estes começassem a se retorcer e se enrolar tal qual um tatu bolinha diante do perigo. Muitos faqueiros, verdadeiras relíquias de família, ficaram desfalcados tamanha era a força (mental?) exercida sobre os pobres talheres de aço ou de prata. Naturalmente, apenas os garfos e colheres que se identificavam com os “gêneros” dobradiças e parafusos, conseguiram realmente algum tipo de transmutação. Os demais sofreram danos irreparáveis, nunca mais conseguiram retornar à sua função original, e acabaram relegados ao fundo das gavetas ao lado dos talheres de plástico. Hoje certamente tal prática opressiva seria proibida, cabendo única e exclusivamente aos próprios talheres a decisão de se tornarem, externamente, o que suas naturezas internas lhes permitem e orientam. Reflexos da sociedade empoderada em que vivemos.
Mais de quarenta anos depois, Uri Geller está de volta. Não, nenhuma TV aberta está propondo outra sessão de telepatia metalizada. Isso iria aumentar sobremaneira as assinaturas da Netflix além de alavancar uma corrida pelas ações da Tramontina. Geller agora quer fazer com os líderes mundiais o que fazia com os garfos. E ele já começou sua nova missão com a primeira-ministra britânica Theresa May. Caso May insista na saída do Reino Unido da União Européia, Geller ameaça parar o Brexit através de seus poderes telepáticos. Sim, ou May interrompe o Brexit agora por bem ou vai se contorcer até que o faça por mal. Parece que a força mental de Geller é mesmo assombrosa pois a primeira-ministra não poderia estar mais enrolada no atual momento.
Diante de tanto sucesso, líderes brasileiros já fazem fila para a contratação de Geller. Gleisi Hoffmann, por exemplo, estaria disposta a gastar o resto das propinas da Petrobrás ainda nas mãos do PT para que Geller bombardeasse a cabeça dos ministros do STF e conseguisse a libertação de Lula. Geller, entretanto, declinou do convite ao afirmar que qualquer bombardeio, mesmo mental, aos ministros do STF brasileiro iria requerer manobras jurídicas que nem mesmo o mais preparado advogado internacional é capaz de garantir. Gleisi argumentou que as mentes de Gilmar, Toffoli, Lewandowski e Marco Aurélio já haviam sido previamente bombardeadas por forças extremamente poderosas mas nem essa redução no escopo de trabalho foi suficiente para que Geller aceitasse o desafio.
Olavo de Carvalho foi outro a entrar em contato com Geller. Ele prometeu divulgar o trabalho do ilusionista entre os seus milhões de seguidores caso Geller conseguisse convencer Bolsonaro a se livrar de seu vice, o General Hamilton Mourão. Identificado intelectualmente com Olavo, Geller estava propenso a aceitar até que um delicado e afável telefonema do General Heleno o convenceu a recusar o convite. Olavo não ficou feliz e proferiu cento e trinta e oito palavrões e ofensas em apenas dois minutos de conversa, entrando assim para o livro dos recordes. A sorte é que as ofensas foram feitas todas em português (Olavo não gosta de xingar em inglês para não rivalizar com Trump), Geller não entendeu nada e ambos continuam amigos próximos.
Jean Wyllys, diretamente de Portugal, pediu a Geller que transformasse o autoproclamado presidente José de Abreu no único e efetivo presidente da República do Brasil. Geller aceitou a proposta e conseguiu, apenas com sua força mental e em menos de duas horas, o reconhecimento de países importantes como Venezuela, Cuba e Nicarágua, além dos brilhantes intelectuais e demais militantes do PT. Exultante, Wyllys afirmou que sua volta ao Brasil passou a ser uma possibilidade real, e já pediu a Wagner Moura, com quem irá dividir seu novo apartamento, que providencie a decoração do quarto com silhuetas de Che, Fidel e Marighella.
Outros líderes brasileiros a tentar contratar Geller foram Rodrigo Maia, Joice Hasselmann e Paulo Guedes. Todos pediram encarecidamente a Geller que ensinasse a família Bolsonaro a usar as redes sociais com responsabilidade, apenas em prol do bem do país, divulgando ideias, planos de governo e os benefícios das reformas tão urgentes e necessárias. Geller afirmou, entretanto, que era capaz de dobrar garfos, de influenciar pessoas e até de parar o Brexit, mas que, mesmo sendo conterrâneo de Jesus, ele ainda não aprendera a realizar milagres!