E vazou uma das questões do Enem do próximo ano:
“Egrégio confrade! Rogo-lhe que não se esquive de seu múnus para comigo e proceda a devida quitação de suas obrigações pecuniárias. Se me permite um alvitre, procure descontinuar sua extemporânea progressão de petas ou me verei forçado a fustigá-lo, não obstante ainda reconhecer-me um contumaz censor de quaisquer condutas bestiais.”
Se você entendeu as palavras dessa frase é porque você manja alguma coisa da língua portuguesa, um antigo ‘dialeto secreto’ usado por professores, escritores, poetas, magistrados e doutos intelectuais de um outrora rico país localizado no Hemisfério Sul.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais informais, um advogado afirma: ‘É claro que eu não vou falar com meu bofe, com meu ocó ou em uma reunião das neusas, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo dos multíscios o tempo inteiro’, brinca. ‘A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque pode ser que as barbies e os bilús entendam, né? Aí pode rolar o maior bafão. Tá na internet, tem até dicionário…”, comenta.
O dicionário a que ele se refere é o Aurélio, o dicionário da língua portuguesa lançado no ano de 1975. Na obra, há mais de 115.000 verbetes que quase ninguém mais sabe do que se trata.
Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que é resultado da mistura do português lusitano com as culturas indígena e africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial.
Questão:
Da perspectiva do usuário, a língua portuguesa foi rebaixada à condição de dialeto, deixando o status de patrimônio linguístico, especialmente por:
A: ter mais de quatrocentas mil palavras catalogadas mas apenas mil efetivamente conhecidas pela comunidade;
B: ter palavras que estão se tornando formas de comunicação usadas apenas em sociedades secretas;
C: ter perdido espaço para expressões muito mais autênticas e dignas de uma nova sociedade empoderada;
D: ser utilizada com correção apenas por raríssimos advogados e escritores ultrapassados que insistem em não acompanhar a evolução da língua;
E: ser cada vez mais incomum em conversas nos ambientes de trabalho dominados pelas palavras muito mais aristocráticas e contemporâneas do Pajubá.