Outubro de 2018, em algum lugar do sertão mineiro…
– Companheira Dilma, tem certeza que o comício é agora?
– Claro, companheiro Haddad. Daqui a pouco eles chamam a gente.
– Mas não tem quase ninguém. Os marqueteiros não avisaram o povo da cidade que a gente viria?
– A gente dispensou os marqueteiros aqui em Minas, companheiro.
– Não tem marqueteiro? Quem está fazendo os panfletos, a divulgação, as propagandas?
– Os panfletos estão prontos há muitos meses.
– Mas não tem nem um mês que eu sou candidato.
– Não tem problema. Todos os panfletos estão com o nome e a foto do companheiro Lula.
– E eu?
– Seu nome tá aqui do lado, olha só.
– Nossa… quase não dá pra ver. E eu sou o cabeça da chapa.
– Companheiro, o comício já tá vazio com a foto do Lula, imagine se fosse a sua.
– É verdade, companheira. Mas isso não é ilegal?
– Não se preocupe, quando alguém reclama a gente alega que você não gosta muito de tirar fotos.
– E eles acreditam? Bom, deixa pra lá. Por que vocês dispensaram os marqueteiros?
– Contenção de gastos, companheiro. A situação não está fácil. Você não imagina a saudade que eu sinto dos tempos de Petrobrás.
– Mas companheira Dilma, você sozinha já gastou quase quatro milhões nesta campanha, mais do que a maioria dos candidatos à presidência.
– Companheiro Haddad, em 2014 eu gastei oitocentos milhões. Oitocentos! A verba de hoje mal dá pra pagar meus vôos, meus vestidos, meu cabeleireiro e o salário do Valdeci. Por falar nisso, cadê o Valdeci?
– Fala baixo, companheira. A gente só declarou trezentos e cinquenta milhões em 2014.
– Isso não é mais segredo, companheiro. O Palocci já abriu o bico. Aliás, deve ser por isso que o comício tá tão vazio. Nem o pessoal da CUT vem mais, ainda mais agora sem o imposto sindical. O último carregamento de mortadela até azedou.
– Não desanime, companheira. Nós seremos eleitos. Eu confio na nossa militância.
– Eu também, companheiro Haddad. Eles nunca nos abandonam. Não importa o que a gente faça, não importa o que a polícia descubra, eles estão sempre do nosso lado.
– Eles são demais.
– E tem gente que ainda fala que a burra sou eu…
– O que você disse, companheira?
– Nada companheiro Haddad. Estava só pensando alto. Prepare-se, está quase na hora da gente entrar no palco. Decorou tudo o que o companheiro Lula lhe disse?
– Tá tudo na ponta da língua, companheira. Ainda bem que o público aumentou um pouco.
– Não aumentou não, companheiro. Eles só inflaram os balões vermelhos. Faz uma diferença, né? Vamos lá, chegou a nossa vez.
– Bom dia a todos! Eu, poste Dilma, estou aqui ao lado do poste Haddad. Duas Dilmas. Não, dois Haddads. Não, dois postes…