Terça-feira, 30 de outubro, em uma das celas da Polícia Federal de Curitiba…
– O senhor tem visitas.
L – Manda embora. Eu não quero ver ninguém.
– Sou seu carcereiro, não seu mordomo. Tem duas pessoas com autorização para entrar aí fora e eu vou deixar.
L – Não sei o que que eu fiz pra aguentar tanto desaforo…
H – Boa tarde, presidente. Puxa, não sei nem o que dizer. Eu sinto muito mesmo. Eu queria tanto ter ganho essa eleição pro senhor.
L – Não adianta chorar agora, companheiro H. Não sabia que você era um cabra tão frouxo. Se fosse eu essa eleição tava ganha no primeiro turno.
H – Porque o povo vota até em jegue, né presidente?
L – Companheiro H, se você veio aqui pra tirar sarro com a minha cara é melhor ir embora. Já basta o tal do Mano Brown!
H – Imagina, presidente. Eu e a companheira D viemos lhe prestar contas da campanha.
L – Prestar contas? Vocês dois? Era só o que me faltava. Dois incompetentes que não conseguiram se eleger em lugar nenhum. Deixa tudo anotado aí na mesa que eu vejo depois. Vão embora daqui.
H – Mas não tem nada anotado, presidente. Viemos lhe contar tudo pessoalmente.
L – Não quero ouvir nada agora, companheiro H. Manda o Valdeci me entregar tudo amanhã. Não, na semana que vem é melhor.
H – O Valdeci não trabalha mais pra gente, presidente. Ele agora tá trabalhando pro jegue eleito.
L – Até o secretário foi pro outro lado. Isso tá parecendo um pesadelo sem fim.
D – Presidente, o senhor tá me deixando muito preocupada. Nunca te vi tão pra baixo. Aconteceu alguma coisa?
L – Que pergunta idiota é essa, companheira D? Nós acabamos de perder a eleição. Vocês sabem o sacrifício que foi assistir à apuração ao lado do carcereiro? Com o cara sorrindo de lado e comendo coxinha? E depois o filho de uma égua ainda pôs pra tocar todas as músicas do Lobão. Eu não mereço isso não!
H – Imagino presidente, mas nós temos boas notícias.
L – Boas notícias, companheiro H? Será que o Ministro GM vai mandar me soltar?
H – Infelizmente ainda não, presidente. Mas estamos voltando às bases. Vamos comandar a resistência.
L – Comandar a resistência? Contra quem? O Darti Veider??? Tenha paciência. Temos que comandar a oposição, isso sim.
D – Quem é Darti Veider?
H – Tem muita gente querendo comandar a oposição, presidente. É melhor a gente ficar só com a parte da resistência mesmo.
L – Olha só, enquanto vocês ficam brincando de Guerra nas Estrelas eu tô cada vez mais ferrado. Tragam o companheiro C aqui. Vou dar um jeito dele ficar do nosso lado na oposição.
H – Presidente, o companheiro C já disse que nunca mais sobe num palanque conosco. Chamou o senhor de traidor e a gente de asseclas. Ele tá chateado porque o senhor acabou com a candidatura dele.
D – O que que é assecla?
L – Cearense safado! Não se pode confiar em ninguém hoje em dia. Chama a companheira MS então.
H – Ela também já disse que não quer saber da gente. Além disso ela já saiu de férias.
L – Quem ainda tá do nosso lado?
H – Só o companheiro GB. Ele já falou que a turma dele vai invadir as ruas.
L – Ele disse que faria a mesma coisa se eu fosse preso. Tô aqui há mais de seis meses e ninguém fez nada. É outro que só presta pra falar. Agir que é bom, nada!
D – Mas nós estaremos sempre com o senhor, presidente.
L – Companheira D, se você não puder ajudar pelo menos não atrapalha, tá bom? É melhor vocês irem embora agora. E não precisam voltar.
H – Tá na nossa hora mesmo, presidente. Temos que ir na audiência do Valdeci ainda hoje.
L – Que audiência, companheiro? O Valdeci entrou na justiça contra a gente?
H – Sim, presidente. E tá reclamando uma grana alta.
L – Mais essa agora. E ele tá alegando o que?
H – Insalubridade…