Segunda-feira, 08 de outubro, naquela mesma cela da Polícia Federal de Curitiba…
H – Bom dia, presidente. Como foi sua semana?
L – Tensa, companheiro H, muito tensa. Ainda bem que chegou.
H – Estou aqui, presidente, como em toda segunda, aguardando as instruções da semana.
L – E serão as últimas, companheiro.
H – Últimas? Como assim, presidente? Justo agora que estamos no segundo turno? Não consigo fazer tudo sozinho. Não sou capaz de fazer o povo votar até num jegue como o senhor.
L – Tá me chamando de jegue, companheiro H?
H – De jeito nenhum, presidente. Formulei mal a frase. Quis dizer que só o senhor consegue fazer com que o povo vote até num jegue. Me perdoe por favor.
L – Dessa vez passa, companheiro H. E é claro que vou continuar determinando o que você vai fazer. Mas serão as últimas instruções que te passo pessoalmente. Não quero que você volte mais aqui até o final da campanha.
H – Por que, presidente?
L – Porque não está funcionando. Parece que as pessoas perceberam que você é só um poste.
H – Mas o senhor disse que todo mundo já sabia disso. Que, se o senhor mandasse, o povo iria votar até num jegue… quer dizer, em mim.
L – É verdade, companheiro H. Mas parece que já alcançamos os votos de todos que são capazes de votar num jeg… em você. Estamos no segundo turno e agora precisamos de mais gente.
H – Gente que vota em jegue?
L – Não, companheiro. Gente que não vota no jegue do outro lado.
H – E como a gente faz pra convencê-los a votar no nosso jeg… em mim?
L – Eu tenho que me afastar de você, companheiro. Não quero que você fale mais o meu nome, não quero que me dê mais boa noite nos debates, não quero que diga que eu sou preso político e principalmente não quero que você faça aquele L com a mão que dá uma urucubaca danada.
H – Urucubaca, presidente?
L – Isso mesmo. O companheiro L dançou no Rio, o companheiro S dançou em São Paulo, a companheira D acabou com o nosso dinheiro e dançou em Minas e também em Minas o companheiro P conseguiu perder a vaga no segundo turno prum capiau que parece que saiu agorinha da roça. Fazer L com a mão tá proibido.
H – O que mais, presidente?
L – Chega de bandeira vermelha. Quero só bandeiras do Brasil.
H – Mas presidente, todo mundo sabe que a nossa bandeira é vermelha. É a nossa marca registrada.
L – Eu sei, companheiro. Mas o povo que a gente busca não vota de jeito nenhum em bandeira vermelha. Eles têm uma espécie de reação alérgica, sabe? Só vão votar se a bandeira for verde e amarela. Aliás, muda também a sua logomarca pra essas cores.
H – Igual à do jegue do outro lado?
L – Isso. Igualzinho!
H – Ok.
L – Por último, também muito importante, não faça nenhum tipo de contato, nem por sinal de fumaça, com o companheiro JD.
H – Mas, presidente, eu tinha um jantar marcado com ele hoje mesmo.
L – Cancela! Se perguntarem, diga que não o vê há anos. Aliás, que nem o conhece direito.
H – Mas por que, presidente?
L – Temos que colocar você como um cara da nova ala do partido, mais moderno, menos radical, quase um social-democrata, entende?
H – Tipo um tucano?
L – Isso. Essa gente costuma votar em tucano e não em jegue.
H – Muito bem. Que Fidel nos ajude nessa jornada, presidente.
L – Não, companheiro H!! Fidel não! Deus! Que Deus nos ajude. Repete isso quinhentas vezes na cabeça da companheira M. Eu sei que pra ela é mais difícil.
H – Combinado, presidente. Farei tudo o que o senhor mandou.
L – Mas você vai se lembrar de tudo? Não vai anotar nada?
H – Não se preocupe. Tudo está sendo anotado pelo meu secretário ali na entrada da cela, presidente.
L – Que secretário? Você nunca teve secretário, companheiro H.
H – Contratei o Valdeci…