– Próxima.
– Boa noite. Vim para a audição.
– Veio e já pode voltar.
– Mas vocês não vão sequer me ouvir? Eu tenho muita experiência e sou uma excelente cantora.
– Minha filha, se a gente estivesse procurando uma grande cantora a vaga já estaria preenchida há tempos.
– Deve estar havendo algum engano. Vocês não estão precisando de uma cantora e atriz para um musical sobre Dona Ivone Lara?
– Exatamente.
– E não vão me ouvir?
– Não.
– E por que não?
– Você sabia que Dona Ivone era negra?
– Claro que eu sabia, assim como eu.
– Aí é que está o problema, filhinha. Ela não era negra como você.
– Como assim?
– Vocês estão muito distantes na nossa TOC.
– Que diabos é isso?
– TOC? Ora, Tabela Oficial de Colorismo.
– Continuo sem entender nada…
– Vou tentar ser mais clara. Se você e D. Ivone fossem madeiras, ela seria um Jacarandá e você no máximo um Ipê. Se vocês fossem granitos, ela seria um São Gabriel e você no máximo um Marrom Imperial. Se vocês fossem frutas, ela seria uma jabuticaba e você no máximo um kiwi. Se vocês…
– Estou confusa, você está falando de tons de pele?
– Claro, minha filha. Como eu estava tentando lhe dizer, na nossa TOC você é no máximo um seis e D. Ivone ficava entre oito e nove. Resumindo, mesmo sendo negra, você é muito mais clara do que ela.
– Não estou acreditando. Vocês estão dando mais importância ao tom da pele negra do que à capacidade artística das pessoas?
– Claro. Não podemos errar na escolha.
– Isso é um absurdo! Vocês já estão errando na escolha! Quem está fazendo essa exigência imbecil?
– Os movimentos negros. Eles inclusive já conseguiram retirar a cantora que havia sido escolhida pelo diretor. E olha que ela era mais negra do que você.
– Os movimentos negros? Tem gente negra discriminando gente negra no Brasil?
– Só nos últimos 500 anos…
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