Nunca tivemos um presidente verdadeiramente liberal. Ainda que o governo FHC tenha ficado marcado pela pecha do neoliberalismo, palavra que a esquerda brasileira conseguiu transformar em sinônimo de entreguismo, a verdade é que seu governo jamais abraçou as ideias econômicas liberais de uma forma mais abrangente. Mesmo com privatizações em áreas importantes, com destaque para a Vale e a Telebrás, diversas outras empresas públicas, deficitárias e ineficientes, não tiveram seus processos de privatização sequer cogitados. As reformas tributária e da previdência, fundamentais para a adequação dos gastos públicos, foram postergadas ou feitas parcialmente, mantendo-se os privilégios e distorções. A carga tributária do país saltou de 29% para 36% do PIB, em movimento contrário à doutrina liberal. Apesar de ter criado instrumentos fundamentais para a modernização da gestão pública, principalmente a Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo FHC levou anos para adotar o câmbio flutuante, completando o tripé econômico que já contava com as metas de inflação e de superávit fiscal. Tripé este que deu credibilidade e solidez à economia brasileira, até ser completamente destruído no governo Dilma Rousseff.
De lá para cá, temos convivido com governos cada vez mais irresponsáveis, que gastam sistematicamente mais do que arrecadam, que usam as estatais como moeda de troca para apoio de sua base aliada, como cabides de emprego para seus apadrinhados e como fonte de recursos ilícitos oriundos de licitações fraudulentas e corrupção generalizada. Governos populistas que se preocupam apenas em manter e ampliar seus currais eleitorais, através de políticas públicas que não têm como objetivo o desenvolvimento da nação e a capacitação intelectual de seu cidadão. Governos que concedem subsídios aos setores que lhe trazem contrapartidas espúrias, e que repassam o ônus dos frequentes rombos para o restante da sociedade. Governos que têm que lidar com um congresso cada vez mais omisso, corrupto e alheio aos interesses do país, e que aprova leis e matérias não por necessidade ou ideologia, mas sim quando é literalmente comprado através de cargos públicos, postos comissionados, verbas de gabinete e propinas cada vez mais vultosas.
Infelizmente, esse é o retrato do Brasil desde sempre. Chegamos, pois, a uma encruzilhada. Ou realmente mudamos de rota a partir do ano que vem, ou sucumbiremos. O caminho que estamos trilhando leva inevitavelmente ao abismo. Cabe a cada um de nós, portanto, a responsabilidade pela busca de representantes que entendam o cenário caótico em que estamos inseridos, e que tenham ideias e conceitos modernos, pragmáticos e factíveis. Que entendam que nenhum programa de assistência social será melhor do que um emprego estável, que nenhuma lei de cotas será mais eficaz do que uma educação básica de qualidade disponível a todas as crianças e jovens, que nenhum sistema de reajuste salarial será mais apropriado do que uma economia com inflação baixa e contas públicas equilibradas, que nenhum subsídio pontual será mais justo do que uma menor carga tributária sobre todos os setores produtivos, que nenhum programa popular de crédito automotivo irá substituir um sistema de transporte público diversificado e eficiente, que nenhum médico cubano será mais benéfico do que saneamento básico disponível a todos, que nenhuma mensalidade de seguro desemprego será mais valiosa do que um ambiente propício à inovação e ao empreendedorismo.
É hora de entendermos de uma vez por todas que, quanto maior for o tamanho do Estado, menor será a sua capacidade de prover educação, saúde, bem-estar e segurança. É com essa lista de prioridades que qualquer governo deveria trabalhar. É hora também de assumirmos nosso protagonismo, afinal, qualquer recurso que o Estado vier a dispor estará diretamente ligado a tudo que nós, cidadãos, conseguirmos produzir. Não existe fórmula mágica, não existe almoço grátis, e não existe programa social, por mais bem intencionado que seja, que se mantenha sem a geração de riquezas. Qualquer político que propague tais ideias não está sendo somente populista, está mentindo descaradamente.
Considerações e observações feitas, não consigo enxergar um caminho diferente do liberalismo para o Brasil. E por que o liberalismo? Antes de tudo por se tratar de uma linha de pensamento que tem como premissas básicas a liberdade do indivíduo, a identidade do cidadão, a igualdade entre os povos, a tolerância e a isonomia de oportunidades. Por se tratar também de uma corrente ideológica tão singular que sua vertente econômica é sempre relacionada ao pensamento de direita, ao passo que sua vertente comportamental é normalmente abraçada pelos defensores da esquerda. Exatamente em virtude dessa dualidade, muitos consideram o liberalismo oposto ao conservadorismo. Na minha visão, esse é um papel que caberia apenas ao totalitarismo.
Durante muitos anos, a esquerda deturpou o pensamento liberal acusando-o de interesseiro, egoísta, indiferente aos pobres e radicalmente contrário à ação social do Estado. Na verdade, nenhuma ideologia econômica produziu tantas riquezas e retirou tanta gente da pobreza quanto o liberalismo. Está na hora de contarmos com orgulho essa história de sucesso. Mais importante ainda, está na hora de escrevermos o seu próximo capítulo, agora em tons verde e amarelo. Que possamos encontrar candidatos, em todos os níveis, que representem e defendam esses anseios!