Vivemos em um país onde grande parte da população acha normal saquear lojas e mais lojas só porque sabe que a polícia não vai molestá-la. E não falo da parcela da população que vive nas ruas ou que não tem o que dar de comer a seus filhos. Falo de pessoas que param seus carros e enchem seus porta-malas com eletrodomésticos, engradados de cerveja, roupas e todo tipo de bens furtados de pessoas que se matam para empreender em um país que sabe cobrar, mas não é capaz de oferecer nada em troca. Saques feitos em plena luz do dia! Com diversas pessoas em volta filmando! Repararam na gravidade da coisa? Inexiste qualquer noção de ética, qualquer resquício de vergonha, qualquer constrangimento. Isso sem falar nos bandidos “profissionais”, acostumados a praticar crimes e que, com a total ausência de policiamento, arrombam, invadem, assaltam e matam sem serem incomodados. Mesmo porque sabem que o cidadão comum não tem como se defender, não possui armas e nem tem a quem recorrer. Dependemos exclusivamente do estado também nesse aspecto e, infelizmente, depender do estado brasileiro é sinônimo de desastre.
Por incrível que pareça, a maioria dos saqueadores não se considera criminosa. Dizem que jamais seriam capazes de portar uma arma e invadir uma residência para roubar. Dizem até que têm medo e também sofrem com a violência nas cidades. Mas pegar mercadorias de uma loja já invadida? Bobos são os que não aproveitam. Imagine, não há risco de punição. A polícia está em greve! E a mesma cena se repete toda vez que um caminhão tomba na estrada, em qualquer estrada, em todas as estradas deste país. A sua carga, seja lá qual for, é imediatamente roubada. Afinal, os motoristas que passam logo depois não são culpados pelo acidente e é melhor levar uma parte antes que não sobre nada, não é mesmo? Em que tipo de realidade alternativa, de universo paralelo estamos vivendo?
Qualquer análise que se faça sobre esse tipo de comportamento leva a uma conclusão desoladora: um país como esse está longe de poder ser chamado de civilizado. É um país sem perspectivas, um país sem rumo, um país sem futuro. É o país do jeitinho, do mais esperto, do sacana. E, enquanto uma parte tão significativa da nossa população continuar agindo ou achando normal um comportamento como esse, não adianta sonharmos com um governo decente, justo e honesto. Por mais que a gente reclame dos ladrões que ocupam há décadas a nossa presidência, os governos estaduais, as prefeituras, o congresso e as câmaras, na verdade eles nos representam muito bem. Eles são apenas o reflexo do nosso próprio fracasso. São embustes, retratos perfeitos do verdadeiro embuste que é a sociedade brasileira!