Assim vou me lembrar de Obama…

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Hoje, depois de oito anos, um governante absolutamente diferenciado se despede da Casa Branca. Diferenciado não apenas por ter sido o primeiro presidente negro eleito nos Estados Unidos, indiscutivelmente um fato histórico por si só. Fato que corria o risco de ter sido o único ponto de destaque de seu governo caso as expectativas criadas à época da sua eleição não tivessem se confirmado. Mas Barack Obama não decepcionou. E, não, essa não é uma mera opinião pessoal minha. Ele não decepcionou porque não fez nada diferente do que se propôs a fazer. Suas convicções, seus objetivos e suas metas sempre foram deixadas muito claras desde o princípio. Ele não se apresentou de uma forma e se comportou de outra. Portanto, aqueles que o criticam com veemência, alguns chegando ao despautério (sinto muito, não consigo ver de outra forma) de considerá-lo um dos piores presidentes da história americana, não podem afirmar que seu comportamento como presidente os tenha surpreendido. Não se pode falar em decepção quando a conduta adotada vai ao encontro das promessas feitas.

Nos últimos meses, tenho lido muitos comentários, análises e estatísticas sobre os oito anos do governo de Barack Obama. Mas nenhuma delas realmente isenta, justa e imparcial. Como sempre, oito ou oitenta, nada diferente daquela esquizofrenia com a qual o mundo já se acostumou a lidar diariamente. Ou consideram o homem um santo que recuperou a nossa esperança na humanidade, ou o amaldiçoam como um esquerdista que quase levou a América ao comunismo. Como sempre, ambas imagens muito distantes da realidade. Afinal, muitos avanços foram feitos no governo que hoje se despede. E muitos erros foram cometidos. Nenhuma novidade…

Já que mencionei as estatísticas, é bom lembrar que Barack Obama recebeu um país com desemprego em alta, fruto de uma enorme crise financeira iniciada no governo Bush, e que acabou abalando o mundo inteiro em 2008. Desemprego que chegou a 10% e hoje está em pouco mais de 4%. Esse índice, somado à melhora da economia, à recuperação do mercado imobiliário americano, à inflação e juros baixos, são bons exemplos de suas conquistas no campo econômico. Em compensação, a explosão da dívida pública, as restrições provocadas pelo número recorde de regulações de mercado, e o aumento de impostos sobre a classe média estão entre os itens mais lembrados por aqueles que já ansiavam por sua saída do governo. Números positivos de um lado, negativos de outro. Situação que irá se repetir em qualquer setor do seu governo que alguém isento se dispuser a avaliar. Mais uma vez, nenhuma novidade…

Então, se as novidades não aparecem nos números, o que teria feito Barack Obama para ser considerado um presidente realmente diferenciado?

Na minha opinião, a resposta está nele mesmo. Já tinha visto presidentes com uma boa capacidade de oratória. Também me lembro de presidentes altamente carismáticos. Houve presidentes que se destacaram pela sua postura serena em momentos de crise. E, com certeza, outros tiveram esposas que deram personalidade, relevância e simpatia ao posto de primeira-dama. Mas não me recordo de nenhum presidente que tivesse reunido todos esses atributos simultaneamente. Obama conseguiu, ao longo de oito anos, fazer o mundo parar para ouví-lo a cada discurso. Conseguiu comunicar, com clareza, os ideais nos quais se engajou. Mesmo aqueles que não concordam com o conteúdo, não são capazes de criticar a forma. Obama diminuiu a distância que separa as pessoas normais do posto mais importante do planeta. Foi atencioso, humilde e solícito com seus subordinados. Foi sempre carinhoso com sua família, com seus amigos e com seu povo. Manteve, por longos oito anos, uma atitude ponderada, centrada e coerente. Alguns dizem que isso é o que menos importa. Não poderia discordar mais. As pequenas atitudes da pessoa mais poderosa do mundo são sempre de uma importância incalculável.

Pessoalmente, considero Barack Obama um dos grandes presidentes dos Estados Unidos. Não apenas pela sua postura pessoal, mas também por suas atitudes, suas decisões, seus conceitos e, principalmente, suas intenções. Creio que, mesmo quando errou (e acho que ele errou muitas vezes), ele sempre buscou fazer o que entendia ser o melhor. Dizem que, de boas intenções, o inferno está cheio. Eu penso diferente. Acho que, se existisse, o inferno já estaria superpopulado apenas com aqueles que escolhem, propositadamente, o caminho errado. Não acredito ter sido esse o caso de Obama.

Talvez todas essas minhas convicções sejam fruto de uma ingenuidade incurável. Talvez eu tenha a tola mania de sempre valorizar mais o caráter do que a ideologia ou a eficiência de cada um. De qualquer forma, tolo ou ingênuo, sei que ficaria muito feliz se encontrasse, na política brasileira, alguém que eu pudesse admirar, simplesmente, por querer acertar de verdade!

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