As Olimpíadas chegaram ao fim. Durante dezessete dias, falamos muito mais sobre esporte do que sobre economia, política, insegurança e desemprego. Durante dezessete dias, exaltamos as nossas capacidades e habilidades e deixamos de lado as nossas incompetências, as propinas, os ladrões e os corruptos. Durante dezessete dias, enaltecemos a confraternização dos povos e nos esquecemos das guerras civis, dos terroristas, dos conflitos que assolam o mundo. Exatamente por isso, muitos chamam as Olimpíadas de ilusão, de ópio, de cortina de fumaça que só servem para mascarar uma realidade cada vez mais triste e preocupante. Será mesmo? Será que elas não são apenas um domingo de descanso depois de uma semana árdua de trabalho? Será que não são as ansiadas férias depois de um ano inteiro na labuta? Será que não são um happy hour com os colegas no final do dia? Ou um futebol com os amigos no fim de semana? Será que a gente não precisa, de vez em quando, de uma folga de tantas notícias ruins, de tantas mazelas, de tantos desastres, de tantas preocupações? Os problemas não deixaram de existir, todo mundo sabe disso. Mas, assim como o chopp no happy hour não elimina os angústias do trabalho, assim como as férias não nos fazem esquecer das nossas responsabilidades diárias, assim como a pelada do fim de semana não apaga as nossas frustrações e decepções, curtir e vivenciar as Olimpíadas também não nos transforma em seres alienados alheios aos graves problemas do país e do mundo. Mas a gente precisava de um tempo pra recuperar as forças e o ânimo. Nós, brasileiros, precisávamos, como nunca, de uma injeção de confiança, de autoestima, de motivação. E essa injeção veio na forma do esporte. Veio na forma de saltos, de remadas, de bloqueios, de cestas, de gols. Veio na forma de música, de luzes e de fogos. Veio na forma de explosões de alegria e na forma de lágrimas de decepção. Veio na forma de explosões de dor e na forma de lágrimas de felicidade. Não veio pra nos fazer esquecer, veio sim pra nos fazer acreditar novamente que somos capazes. Veio pra nos fazer querer chegar mais longe. E veio pra nos lembrar que isso, chegar mais longe, realmente é possível.
As Olimpíadas acabaram e eu não vou me esquecer jamais das emoções que senti nesse happy hour tão especial. Dos exemplos de garra e de vontade, das incríveis performances dos monstros sagrados do esporte, das festas nos pódios cada vez mais empolgantes, dos sorrisos dos voluntários, das conversas com pessoas do mundo inteiro, e da emoção de poder cantar tantas vezes o nosso hino. Desde aquele entoado com intimidade pelo Paulinho da Viola na festa de abertura, até o tocado no pódio mais emocionante da história, recheado de lágrimas de pura superação dos meninos do vôlei, passando pelo inesquecível coro uníssono e orgulhoso do Maracanã comemorando, enfim, o ouro no futebol!
Puxa, a gente merecia essas férias, esse chopp, essa pelada! Foi bom demais e vai deixar saudades. Hoje, voltamos renovados a encarar a nossa rotina. Não tínhamos nos esquecido dela. Apenas a olhávamos com um pouco mais de otimismo e de confiança. Espero que agora, de volta das férias, possamos continuar assim. Obrigado, Rio. Valeu demais!