Algumas fotografias são capazes de me fazer voltar no tempo. São aquelas que vêm acompanhadas de vozes, de sensações, de perfumes. São aquelas que fazem meus dedos sentirem novamente a textura da pele que tocavam, que trazem aos meus ouvidos o som das gargalhadas de quem me cercava, que me permitem sentir as vibrações dos corações que batiam junto ao meu. São aquelas que fazem meus dedos sentirem novamente a textura da pele que tocavam, que trazem aos meus ouvidos o som das gargalhadas de quem me cercava, que me permitem sentir as vibrações dos corações que batiam junto ao meu. E, quando tenho a oportunidade de voltar aos mesmos lugares onde momentos marcantes foram vivenciados, as sensações afloram de uma maneira incontrolável, sobrepondo imagens que embaralham a minha mente. Passado e presente se unem para me mostrar que ambos não passam de diferentes faces de uma mesma moeda, ou diferentes notas de uma mesma melodia. Sim, algumas imagens revelam o quão longo é o caminho, e o quão curto é o tempo que disponho para percorrê-lo.
Agora mesmo, ao me deparar com a imagem da primeira fotografia, é impossível não me lembrar da segunda, tirada há pouco mais de 6 anos. Ambas retratam membros da mesma família se divertindo. Ambas têm como fundo o mesmo desafio a ser vencido – fácil para uns, difícil para outros, insuperável para a maioria. Ambas abrigam gerações diferentes unidas pelo mesmo amor. Quantas semelhanças… e quantas diferenças.
Na imagem de ontem, o sábio tinha cabelos quase brancos. Ainda que conservasse um corpo atlético para a sua idade, as limitações que seu coração físico lhe impusera eram evidentes. Ao seu lado, dois aprendizes. Duas gerações que cresciam sob a luz dos conselhos e exemplos do sábio. Apenas um deles encarara o louco desafio retratado ao fundo, provocando a admiração dos outros dois. Admiração pela superação do medo, pela coragem de se jogar no novo, no inexplorado, no misterioso. Não desconfiava o sábio, entretanto, que, com ele ao meu lado, até um mergulho no desconhecido me parecia seguro.
Na imagem de hoje, não há mais sábios retratados. Há sim duas sementes plantadas que crescem e prometem desabrochar em bondade, tolerância, sabedoria e amor. Agora, é a vez daquele menino que considerava intransponível o desafio, de deixar de lado suas incertezas e perceber que ele também tem a capacidade de tomar decisões e seguir em frente. E quem se admira com isso é o pequeno que testemunha seu ídolo e irmão lhe mostrando que os desafios da vida podem ser vencidos; sou eu que o vejo cada vez mais confiante na sua própria capacidade; é o sábio que – lá da outra face da moeda – sorri e se emociona com cada passo dado por um garoto que, desde muito cedo, teve a generosidade e a doçura do sábio como grandes fontes de inspiração.
A insana experiência trouxe alegria e confiança ao menino e a todos os demais retradados. Mas caberá sempre a ele escolher as experiências que quiser ou não viver, os desafios que decidir ou não enfrentar, os penhascos que resolver ou não escalar, os caminhos que optar ou não percorrer. Ele já aprendeu com o sábio que, mais importante que as próprias escolhas, são os princípios e os ideais que as motivam. Que, enquanto for fiel a si mesmo, sempre haverá razões pelas quais se orgulhar.
Quanto a mim, mesmo depois de 6 anos, continuo me jogando lá de cima. Não com a capacidade de vivenciar cada segundo como se fosse o último. Não com a plenitude que existe no mergulho de um rio ao se encontrar com o mar. Não com a lucidez que o sábio de cabelos brancos demonstrava diante de cada desafio. Talvez, quem sabe, ainda venha a alcançar essa iluminação algum dia antes de partir. Enquanto isso, olho para todos os rostos fotografados nas felizes imagens, e continuo certo de que, ali, o único insano ainda sou eu.