Perdi a conta de quantas vezes critiquei a falta de capacidade administrativa da atual presidente da República. Estou certo de que não existem registros na história política brasileira de uma governante tão incapaz, tão limitada, tão inexpressiva, tão incompetente. Uma pessoa com idéias econômicas ultrapassadas, que está promovendo o maior retrocesso fiscal já visto na história deste país. Nunca houve um gestor tão negligente, que, ainda hoje, só toma a iniciativa de começar a considerar a remota possibilidade de alguma pequena alteração de rumo, depois que o desastre já foi feito, depois que a porteira já foi arrombada. Nunca retrocedemos tanto no tempo. Nunca voltamos tantos degraus de uma escada em que cada passo para cima leva anos para ser dado. Nunca houve um encolhimento desta magnitude por um período tão prolongado. Encolhimento devido exclusivamente a uma matriz econômica desastrosa, populista, inflacionária, recessiva e inconsequente. Essas são “conquistas” inquestionáveis que o governo Dilma levará consigo ao longo da história (a não ser, naturalmente, que a nova ordem curricular mude por decreto o que deveria constar em todos os livros daqui por diante).
Entretanto, por maior que seja sua incompetência, a presidente não é o personagem central de toda essa história. Ela é apenas um fantoche, uma caricatura de gestora fabricada por uma competente equipe de marketing. Central mesmo é o mentor do assalto ao país. Aquele que enxerga o Brasil e suas instituições como seus brinquedos particulares. Que se sente livre para interferir em todos os aspectos da nossa sociedade. Que, fazendo jus ao seu nome, tem a capacidade de infiltrar seus tentáculos em todas as esferas da administração federal, em todas as autarquias, em todos os órgãos públicos, em todas as estatais, e até em grandes empresas privadas. Que, tal qual o personagem de Charles Chaplin em “O Grande Ditador”, brinca com seu balão verde e amarelo (ou seria vermelho?) até estourá-lo no final. A diferença é que o Brasil explode sempre nas mãos dos outros, nunca nas mãos dele. Ele nunca é o responsável por nada de mal. Ao contrário, é sempre tratado como o arauto das boas novas, sempre inéditas na história deste país. Ele nunca sabe de nada que possa comprometê-lo, nunca indicou ninguém envolvido em corrupção, nunca recebeu benefício proveniente de qualquer ação inadequada por parte de quem quer que seja. Um homem tão sórdido, que não se furta a abandonar “companheiros” apenas para não ser contaminado. Companheiros que se sacrificam abnegadamente por ele, para que jamais se perca a imagem imaculada de “homem do povo”, santificado como um Hugo Chaves brasileiro, travestido de democrata. Um homem blindado por um partido cuja única missão é se manter no poder a qualquer custo!
Pois esse homem acaba de ser, mais uma vez, citado nominalmente por um delator, na apuração do interminável e gigantesco esquema de corrupção que assola o país. Sim, o delator também citou nomes de adversários dele, criando uma situação, no mínimo, curiosa, pois quando as menções estavam restritas aos membros do governo, os defensores acéfalos do partido da estrela vermelha se apressavam em afirmar que essas vinham de uma fonte sem a menor credibilidade. Mas bastou que a mesma fonte citasse o nome de um membro da oposição para que essa citação (e apenas essa) passasse a ser prova irrefutável do envolvimento do citado. Incoerências já previstas à parte, torço para que todos os envolvidos, da situação e da oposição, terminem abraçados na mesma cela.
Voltando ao dono dos tentáculos, é impressionante a cara de pau com a qual ele busca se dissociar das agruras de um governo que ele mesmo impôs ao povo brasileiro, com o único objetivo de poder se apresentar, em 2018, como uma alternativa a si próprio. As críticas pontuais feitas a um modelo econômico que ele mesmo implantou no final do seu segundo mandato, não resistem sequer a uma análise superficial dos fatos. As mentiras que ele ajudou a propagar antes das últimas eleições, o transformaram em um dos grandes responsáveis pelo maior estelionato eleitoral da história do país. Dissociar-se como?
Não há como se dissociar do endividamento monstruoso imposto à maior empresa brasileira, em função de uma gestão corrupta e de uma ideologia tacanha, que reduziu e até inviabilizou, por muitos anos pelo menos, a maior parte da receita oriunda da exploração petrolífera. Do endividamento de todo um país, em função da incompetência administrativa e dos gastos constantes com a compra de apoio parlamentar. Da ausência de reformas estruturais em um período de bonança, que poderia ter pavimentado um caminho próspero para o Brasil nas próximas décadas. Do incentivo à divisão ideológica da nação, como se não estivéssemos todos no mesmo barco. Do processo de desindustrialização promovido pelo incentivo à dependência das commodities e pelo aumento desmedido de barreiras protecionistas. Da completa falta de rigor com as contas públicas, como se dele não dependesse, em última instância, a manutenção dos tão propagados programas sociais. Todos esses são “legados” que não podem ser, erroneamente, colocados apenas na conta do engodo que hoje governa o Brasil.
Espero apenas que ambos, criador e criatura, possam, sem blindagens, assumir as suas respectivas responsabilidades na imensa crise que enfrentamos hoje, e que ainda enfrentaremos por muito mais tempo. Mas que jamais se coloque em dúvida quem é o verdadeiro protagonista dessa história. A Lula, o que é de Lula. A Lula, o que é de Dilma!