Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo sem planos. Não há compromissos inadiáveis para o almoço, não há cartões a serem escritos com antecedência, não há flores a serem encomendadas, e não há busca por palavras jamais ditas, na tentativa de agradecimento por um amor jamais restrito.
Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo sem encanto e sem magia. Um domingo cinza e chuvoso, mesmo com o sol brilhando lá fora.
Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo carente de abraços. Na verdade, carente daquele colo e daqueles braços.
Pela primeira vez na minha vida, a alegria deste domingo foi substituída por uma enorme saudade e, no lugar da expectativa de encontrar dois olhos marejados de emoção com a minha chegada, está a certeza de que são as minhas lágrimas que irão rolar por uma ausência particularmente doída hoje, neste dia de domingo.
Pela primeira vez na minha vida, nada do que já foi dito em um domingo me parece bastante, e tudo o que escrevi nos domingos anteriores me sufoca pela inexatidão e pela insuficiência.
Pela primeira vez na minha vida, este domingo mostra a dimensão da falta que me faz aquele carinho, aquele olhar, aquele beijo, aquele toque.
Pela primeira vez na minha vida, o som de uma voz doce e carinhosa é a única música que eu gostaria de ouvir neste domingo.
Pela primeira vez na minha vida, este é um domingo que me faz ansiar pela segunda.
Pela primeira vez na minha vida, este domingo festivo para tantos não me chama pra festa, e as lembranças de todos os outros domingos me arrebatam e me consomem.
Pela primeira vez na minha vida, resta o alento de que muito foi vivido nos domingos passados, incontáveis sorrisos, cada um dos inúmeros brindes, cada emoção compartilhada.
Pela primeira vez na minha vida, percebo que o meu amor por ela continua crescendo, da mesma forma como sempre cresceu a cada ano, a cada domingo.
Pela primeira vez na minha vida, posso sentir sua força e sua ternura, mesmo sem sua presença neste domingo.
Pela primeira vez na minha vida, sei que as silenciosas declarações de amor que eu fizer neste domingo, chegarão sussurradas diretamente aos seus ouvidos.
Pela primeira vez na minha vida, consigo visualizar seu rosto se iluminando neste domingo, sua boca se abrindo em um sorriso nostálgico, e seus olhos derramando lágrimas de saudade, mas também de agradecimento pela absoluta felicidade vivida ao longo de tantos anos, de tantos momentos, de tantos domingos…
Por isso, pela primeira vez na minha vida, embora cercado por mães maravilhosas, a começar da luz que, junto aos meus filhos, são as maiores bênçãos com as quais eu poderia sonhar, vou me permitir dedicar cada hora deste domingo àquela que sempre considerou essa a data mais aguardada do ano. Àquela que fez da missão de ser mãe o objetivo maior da sua própria vida. Àquela que, não contente com seus quatro filhos, acolheu a todos com o mesmo espírito maternal inerente à sua personalidade, tornando-se assim, mãe de todos. Àquela que fez da sua passagem física por este plano, uma inesgotável fonte de crescimento para a sua alma. Àquela que me acalentou, guiou, orientou, protegeu, abençoou e amou como ninguém mais foi capaz nesta vida. Àquela que sempre foi o tronco forte e a base sólida para a construção de uma família repleta de harmonia, de amor, de tolerância, e de felicidade plena.
Que me perdoem todas as mães mas, pra mim, hoje, pela primeira vez na minha vida, este domingo é só seu, minha querida, meu amor, minha mãe!