Como eu faço pra parar o tempo? Antes que crianças se tornem adultos, antes que a motivação diminua, antes que os ímpetos esmaeçam, antes que os ânimos se atenuem.
Como eu faço pra parar o tempo? Antes que os anos pesem, antes que amigos se afastem, antes que sorrisos se apaguem, antes que perdas se somem.
Como eu faço pra parar o tempo? Antes que o andar se canse, antes que as referências se percam, antes que as vozes se calem, antes que os sons emudeçam.
Como eu faço pra parar o tempo? Antes que a visão se engane, antes que o discernimento deturpe, antes que as cores desbotem, antes que os conselhos se esgotem.
Como eu faço pra parar o tempo? Antes que as questões desistam das respostas, antes que as angústias não busquem mais alívio, antes que as certezas se transformem em dúvidas, antes que o amanhecer não traga mais desafios.
Como eu faço pra parar o tempo?
Mas o tempo não para! E não é necessário ser propriamente um gênio para jamais se colocar em dúvida essa afirmação. Mas será que ele não para mesmo? Será que não existem momentos tão ímpares na vida de cada um, nos quais o tempo perde inteiramente o sentido? Eu acredito em momentos como esses! Eu acredito que o eterno pode ocupar apenas um instante, e fazer desse instante uma experiência atemporal. Eu acredito em momentos que guardam, em um segundo, o sentido de toda uma vida. Mas como eu posso vivenciar isso? Como eu posso sentir o tempo parar? Talvez no olhar admirado do meu filho, no abraço que ele me pede antes de dormir, e na expressão de seu rosto quando entende o significado de uma boa ação pela primeira vez. Quem sabe no beijo doce do meu amor, no seu ombro e nos seus braços quando preciso renovar minhas energias. Também no encontro com meus amigos, com meus irmãos, nos sorrisos e nas lágrimas que compartilhamos. Talvez na saudade e na lembrança de inúmeros momentos vividos junto àqueles que não mais dividem comigo o mesmo tempo e espaço. E, certamente, nas inúmeras imagens que só fazem sentido para quem pode compreender o eterno daquele momento: o descer apressado de uma escada após ter ouvido meu nome em um grito vindo do fundo da alma. O retrato da luz da minha vida sorrindo e caminhando em minha direção. O primeiro choro de um bebê imediatamente interrompido nos meus braços. As lágrimas felizes de tantas pessoas na expectativa da primeira visão de um novo sorriso. Um canto de harmonia cercado de água. Duas mãos entrelaçadas. Uma música e um lago. Um brinde a três com saquê. Um brinde a quatro com vinho italiano. Um brinde a seis com champanhe sem álcool. Uma oração inspirada, inspiradora e emocionada. Um esperado telefonema repleto de dor. Um inesperado telefonema que redefiniu meu conceito de desespero. O abraço de muitos filhos em torno da última imagem da mãe de todos. O abraço de quatro filhos em torno da última imagem, neste plano, de um espírito de luz pura! Tantos momentos eternos. Tantos momentos bastantes em si. Tantos momentos que vivem hoje e viverão amanhã com a mesma intensidade de quando ocorreram. Tantos momentos em que o tempo realmente parou.
Como eu faço pra parar o tempo? Qual tempo? As crianças não vão deixar de crescer, os anos não vão deixar de pesar, sorrisos não vão deixar de se apagar e a vitalidade não deixará de diminuir. Mas os momentos eternos permanecerão pra sempre, a cada segundo, seja hoje ou daqui a quarenta anos. Permanecerão inclusive depois que tivermos partido. Permanecerão porque é assim que a vida se perpetua. Permanecerão porque o maior legado que cada um pode deixar aos seus filhos é viver em plenitude. É, portanto, a própria Vida! E esta só poderá ser assim nomeada se tiver sido edificada entre incontáveis momentos eternos, se tiver sido realmente vivenciada e experimentada em todas as suas cores, texturas e possibilidades. Só poderá ser assim nomeada se tiver sido realmente testemunha de que o tempo pode, enfim, parar!
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