Contrários quase idênticos…

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– Jairzinho, mais um zero na prova. Desse jeito vai ficar difícil passar de ano.

– Eu não tive tempo de estudar, professora.

– Deixa de ser mentiroso, menino. Você fica o dia inteiro à toa. Quando não está andando de bicicleta com aquela turma barulhenta, fica parado na beira da estrada acenando pros carros.

– Professora, são estudos antropolé… antropolít… estudos que eu faço com as pessoas. Ainda vou ser muito popular por conta disso.

– Só se for entre os trouxas. E a prova tava tão fácil, Jairzinho. Só sinônimos e antônimos. Como você conseguiu errar tudo?

– Mas eu respondi tudo certinho.

– Certinho? Sabia que o antônimo de comunismo é capitalismo?

– E o que eu escrevi?

– Intervenção militar.

– É a mesma coisa, professora. Sem os cabos e os soldados o comunismo deita e rola.

– E desde quando o contrário de direita é baderna?

– Essa tinha outras respostas também: fãs de mamadeira de piroca, destruidores da família, corja de gays e maconheiros. Acabei escolhendo a mais resumida.

– Não vou nem comentar. Olha essa aqui: sinônimo de conservar não é “pessoa de bem”. É preservar, manter.

– Ah, confundi com conservador. Foi mal.

– E confundiu auxílio com o quê?

– Com nada. Todo mundo sabe que auxílio é sinônimo de compra de votos.

– Engraçado, não é você que vive dando bala pro filho do pipoqueiro guardar seu lugar na fila da cantina?

– Esse é outro tipo de auxílio, professora. O sinônimo desse é ajuda aos mais carentes.

– Ô Jair, tu é pilantra mesmo, heim?

– Luizinho, se eu fosse você ficava calado. Você faz a mesma coisa que eu sei. Além do mais, sua prova também tá zerada.

– A minha, feszôra*? (*feszôra=professora, em língua presa)

– A sua sim. Antônimo de esquerda não é explorador-capitalista-heteronormativo-cis-patriarcal, sinônimo de detento não é preso político, e democracia é o contrário, não o mesmo que regime autocrático.

– Sei não. Ainda vou consultar as minhas bases.

– Pode consultar quem você quiser. O fato é que só um aluno aqui tirou 10 na prova.

– Quem foi, professora?

– O Aristides, é claro. Não é à toa que ele é o queridinho da classe toda…

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