Ligações perigosas…

Segunda-feira, 22 de outubro de 2018, na sede de um dos partidos políticos da capital paulista…

H – Alô, quem fala?
L – Companheiro H? É você?
H – Sim, sou eu, presidente. Que prazer ouvir sua voz novamente. Estava com muitas saudades.
L – Obrigado, companheiro. Mas não posso demorar hoje. Tenho muito pouco tempo de ligação.
H – Achei que o senhor não pudesse fazer ligações de dentro da cela, presidente.
L – O Valdeci me emprestou escondido. Estou passando pra ele tudo o que você deve fazer nesta última semana. Mas algumas coisas eu prefiro falar diretamente.
H – Sou todo ouvidos, presidente. O que o senhor quer me dizer?
L – Seu corno, bexiguento, excomungado, cachorro da moléstia, filho de uma p…
H – Calma presidente, o que foi que eu fiz?
L – O que foi que você fez? Você tá acabando com as minhas chances de sair daqui. Com as minhas chances de mandar neste país de novo!
H – Mas, presidente, eu fiz tudo que o senhor me pediu.
L – Companheiro H, eu te entreguei essa eleição de mão beijada. Uma reportagem de primeira página acusando a campanha do outro jegue de caixa 2. Um escândalo internacional! Você sabe o que eu tive que fazer pra conseguir isso?
H – Imagino, presidente…
L – Imagina nada, companheiro H. Antigamente era só eu estalar os dedos que todo mundo tava pronto pra publicar qualquer merda que eu quisesse. Hoje eu tenho que vender a alma pro diabo pra achar alguém com essa disposição. E, mesmo depois disso tudo, o jegue do outro lado continua disparado na frente.
H – Mas eu fiz tudo o que a gente combinou. Fiz cara de indignado como se nem soubesse o que é caixa 2, disse que estamos perdendo por causa das fake news como se a gente nunca tivesse espalhado notícia falsa, reclamei do pessoal comprado pra mandar mensagens de WhatsApp como se a gente não tivesse uma turma nossa só por conta disso, e até gritei exigindo rapidez do TSE em excluir a candidatura do outro jegue.
L – Gritou, companheiro H? Gritou? Você quando fala alto parece que tá sussurrando. Sua cara de bravo não assusta ninguém, sua voz não convence ninguém, nem pra tomar conta de uma bíblia que ganhou de presente você serve. Você tinha que estar com as veias do pescoço saindo pra fora da pele igual as minhas tão agora! Você é um vexame, companheiro!
H – Mas eu ainda tenho confiança que a candidatura do outro jegue será cassada, presidente. Vamos disputar o segundo turno com o companheiro C!
L – Você ficou louco, companheiro H? Mesmo que isso fosse possível o companheiro C ia acabar com a sua raça. E aquele irmão amalucado dele ainda ia gozar com a nossa cara de novo. Ah, se eu encontro aquele babaca na minha frente não ia sobrar um dente dele pra contar a história. Babaca! Eu não sei mais o que fazer, companheiro. Se eu estivesse aí essa eleição tava no papo! Que vergonha!
H – Não seja pessimista, presidente. Acho que nós conseguimos mudar muitos votos!
L – Só se mudou pro lado do outro jegue. Você não viu como as ruas ficaram lotadas ontem? Ninguém tá nem aí pra reportagem nenhuma. A gente já dançou!
H – Mas as provas da reportagem ainda vão aparecer. O povo vai se convencer de que só estamos perdendo porque a gente tá sendo roubado.
L – Provas? Que provas, companheiro? Eu só consegui a reportagem, prova não é comigo. Desde pequeno que eu nunca fui bom de prova. Aliás, as provas sempre me ferraram.
H – Lamento muito desapontar o senhor, presidente, mas não vou jogar a toalha ainda. O senhor me ensinou que a gente não pode desistir nunca!
L – Companheiro, duvido muito! Já faz tempo que ninguém consegue me fazer dar um sorriso. Nem o Coringão me dá alegria mais. Conseguiu perder pr’aquela desgraça daquele time de Minas, dentro do meu estádio e com VAR e tudo!!
H – Calma presidente…
L – Ô time azul excomungado, metido a besta, filho de uma égua…
H – Por favor, presidente…
L – Meu Deus, companheiro H, o Valdeci enlouqueceu. Ele tá chamando o carcereiro pra mim. Tenho que desligar, tô ferrado!
H – Era o que eu estava tentando lhe avisar, presidente. O Valdeci é cruzeirense…

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